
Se você acha que um paraciclista não tem condições de disputar uma prova de elite com as maiores feras do ciclismo mundial, é porque ainda não conhece Lauro Chaman. O campeão mundial e brasileiro, de 24 anos, é um exemplo de superação. Ele nasceu com o pé virado para trás, fez três cirurgias e teve de ficar engessado por três anos.
O processo atrofiou sua perna esquerda e fez o pé perder a mobilidade. Mas nada atrapalha o seu rendimento nas competições. O atleta, da equipe Memorial da Prefeitura de Santos, está no Tour do Rio para se preparar para o Mundial Paraolímpico, em setembro, na Dinamarca, e para as Paraolimpíadas de Londres, em 2012.
- Não estou na minha melhor fase, mas quero melhorar para chegar 100% no Mundial. Vou usar o Tour como treinamento. Nem todos os atletas com deficiência competem em provas convencionais, essa é uma vantagem para mim. Acho mais fácil conseguir medalhas em competições internacionais paraolímpicas.
Apesar de ter 30% a menos de força na perna esquerda, o que diminui sua potência nas corridas, ele corre de igual para igual com qualquer um, tanto no ciclismo paraolímpico, quando no convencional. O paulista de Araraquara, interior de São Paulo, diz que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito.
- Como estou acostumado a correr, a minha perna nunca foi um obstáculo. Eu pedalo desde criança, usava a bicicleta como um meio de transporte para ir à escola e, quando fiquei mais velho, comecei a disputar provas de Mountain Bike. Se eu perder uma prova, não é porque não tenho a força máxima na perna, isso pode acontecer com todo mundo. Tenho sempre a intenção de ganhar - afirma o atleta, que tinha o sonho de virar jogador de futebol quando era pequeno.
Lauro Chaman, que corre há quatro anos, começou no ciclismo convencional e decidiu aceitar o desafio do paraciclismo em busca de títulos. Ele foi campeão no primeiro brasileiro que disputou, em Brasília, foi vice-campeão mundial de estrada e bronze no contrarrelógio no paraciclismo, no Canadá, em 2010. Neste ano, ganhou duas das três etapas do Mundial, na Espanha, em cima dos campeões dos anos anteriores.
Após a morte da filha, Lauro Chaman encontrou inspiração no ciclismo
Lauro por pouco não abandonou o esporte. No fim de 2006, quando tinha 18 anos, perdeu uma filha - de apenas quatro meses. Sem motivação, ficou completamente afastado por um ano e meio. Em 2009, voltou e conquistou o título mundial. Com o resultado, ele se tornou o primeiro brasileiro campeão de uma Copa do Mundo Paraolímpica.
- Tudo na minha vida dava errado. Perdi meu avô ainda novo, na época que morava com ele. Casei, tive a uma filha e ela morreu de bronquiolite. Por isso, quando sofro com a bicicleta e lembro do que já passei, tudo fica mais fácil. Às vezes, acordo e penso que não vou conseguir pedalar 180km. É difícil buscar inspiração, mas acredito que a minha deficiência me traz forças. E ser campeão mundial é uma recompensa maravilhosa - diz o ciclista, que não se abala com o sofrimento e o desgaste das provas de resistência.
Para se recuperar de uma batalha ciclística, como o Tour do Rio, que passa pela capital fluminense, Angra dos Reis, Volta Redonda, Três Rios, Teresópolis e Rio das Ostras, ele tem uma receita muito simples: não fazer nada, descansar, fazer massagem, jantar e dormir. O objetivo agora são as Paraolimpíadas de Londres 2012.
- Vou buscar a medalha de ouro, mas se não der, vou ficar feliz com uma prata ou um bronze.
Lauro Chaman já conseguiu o índice para participar da competição internacional. Agora, é só esperar pela provável convocação e torcer para dar tudo certo na super volta ciclística. Ele é um dos melhores na categoria C5, de atletas com o grau mais leve dentro da classificação funcional (com menos deficiência e mais habilidades).
Fonte: Globo Esporte
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